domingo, 14 de setembro de 2008

O problema das relações

Em qualquer ciência a percepção de que o objeto de estudo variavelmente está atrelado a vários tipos de relações e há nisso forte interesse em se conhecer quais são mais determinantes que outras na ocorrência de x ou y fenômeno é bastante natural. Contudo, em geografia há alem desse interesse genuíno, uma questão basilar e anelante a todo conhecimento geográfico, que relações ou que categoria de relações são relevantes à geografia, sobre isso se é destacado e há certo consentimento entre os epistemologos da geografia que a relação primordial ou de primeira ordem de analise geográfica é a relação homem e meio. Se partimos daí o que fica ainda é embaraçoso em certo sentido epistêmico, embora não seja intratável, pois quais relações especificas dessa interação, seria o "forte da geografia" já que outras áreas também de forma especifica se importam com a relação homem e meio, como a ecologia, historia e até antropologia. Desde que li "os propósitos..." de Hartshore me convenço que a geografia como qualquer outra ciência é o que pesquisador faz, não não há limites, mas é certo que ainda fica a pergunta em um sentido lógico, penso que deveriamos ver o que estamos fazendo e assim tirar daí que natureza e que gradiente de relações nos sentimos qualificados e instigados a fazer.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

desbanalização do espaço geográfico

Teoria de Wegener sobre a deriva dos continentes foi apoiada por um indício geográfico, algo que parecia não fortuito, ele se intrigou junto com outras observações e intuições já em elocubração é que aquela simetria entre os continentes sul americano e africano em muito contribuia para favorecer a idéia do deslocamento dos continentes, claro que ele tentaria buscar outras observações e indícios para se chegar a uma explicação mais consistente, mas esse exemplo mostra que “ver as formas e aparências” geográficas com intrigamento e busca de “desbanalização” é um primeiro passo para se fazer alguma geografia, mais que fazer a descrição é também como bem salientou no passado o geógrafo alemão do inicio do seculo XX Alfred Hettner também pela busca das causas.

domingo, 13 de julho de 2008

Encontro das diferenças

Deve a geografia se preocupar como defendia de um certo modo o geógrafo estadunidense Hartshore pela especificidade de uma região ou paisagem ou como defendia o também geógrafo estadunidense Schaefer procurar leis com propriedades espaciais que não se alteram apesar das diversidades regionais. As vezes escutamos ou nos deparamos com afirmações ou metáforas geográficas muito genéricas (A Amazônia é uma grande floresta tropical) ou até distorcidas (Floresta amazônica é o pulmão do mundo).

Sabemos como em geografia lidar com palavras e representações é difícil em face das armadilhas que se encontram em generalizações, reducionismos (do tipo eliminatório) ou mesmo imprecisões. E, alem dessas armadilhas da linguagem temos que lidar com os emaranhados aspectos que constituem a realidade geográfica.

O método idiográfico (que privilegia os aspectos em sua singularidade individual) adaptado a busca das diferenciações geográficas não é o limite que a geografia pode chegar quanto a elaboração de algum conhecimento “genuinamente” geográfico, mas é em minha opinião parte do cimento básico do campo geográfico, pois “a floresta amazônica é o pulmão do mundo” é uma metáfora muito pobre e falsa para aceitarmos em detrimento do quanto as interações químicas e climáticas ocorrem nesse rico e gigante recorte geográfico. Só podemos começar a entender o que é a Amazônia quando podemos olhar para suas singularidades e pode-la diferenciar de outros ecossistemas.

Obviamente que só listar não deve ser tudo que a geografia pode fazer, mas com certeza ao fazer pesquisas desse “naipe” poderia estar contribuindo para desfazer generalizações grosseiras e imprecisas e criando linguagens mais especificas sobre a realidade espacial.

A meu ver imaginemos como é difícil e impreciso dizer que o Brasil apesar de ser um país latino-americano tal como a Argentina são culturais e geograficamente diferentes, pois imediatamente surge a pergunta “afinal em que são diferentes?”, um geógrafo Hartshorniano poderia apresentar informações que poderiam contrastar a geografia dos dois países e até dizer sobre coisas que tem em comum, mas que são vividas e vistas de maneiras diferentes pelos dois países, em termos de método é difícil saber por onde começar a lista e difícil saber como terminá-la, porem ainda que exaustivo e quase inconclusivo, acredito que Hartshore estava ciente que a contribuição mais esperada da geografia para a comunidade e para as ciências humanas é que está ciência fosse capaz de em meio a inúmeros aspectos que se apresentam no espaço e em face dessa complexidade de interações físicas e humanos a geografia poderia com algum critério racional mostrar que o mundo é uma colcha de retalhos e alem disso de que tecidos e cores tem cada pedaço desse espaço, alias até mesmo classificar e encotrar (regiões e/ou zonas) especificidades que são a marca de identidade desses pedaços espaciais.

Penso que o caminho visto por Hartshore e de alguma forma trilhado por muitos ainda hoje representa uma nobre empreitada, as descrições, diferenciações e comparações são instrumentos que fazem parte da racionalidade geográfica, não creio por outro lado, que a geografia deva esquecer-se da outra empreitada tão nobre quanto aquela que é estudar, analisar e arriscar leis ou modelos espaciais, não penso que sejam métodos excludentes.

sábado, 12 de julho de 2008

há uma estrutura da percepção geográfica

Para o geógrafo estadunidense Hartshore classificar uma região é realçar aspectos mais importantes em detrimento de aspectos "menos importantes", essa questão de escolha me parece verdadeira, mas não totalmente satisfatória, vejamos que a classificação do geógrafo Aziz Ab Saber de “domínio dos mares de morro” parte da constatação de algumas regularidades naturais, tais regularidades são espaciais (e isso é perceptivo também), a um encontro entre o que estamos potencialmente capacitados a “ver” e que existem como na realidade física, independente de nossas crenças, contudo, a ação de constatar esta intimamente atrelada ao que se poderia chamar de treino perceptivo ou desenvolvimento da percepção para alguma finalidade, se é treinado a enxergar isso ou aquilo, ou ainda, às vezes constatamos algo graças aos conceitos ou idéias que aprendemos, em poucas palavras, “constatar” é precedido de algum conteúdo pré-elaborado.

Para mim esse é um ponto importante, porque, se junta à questão da semelhança e dessemelhança, o fato de até cansar a minha visão quanto a monotonia de relevos do tipo “meias laranjas” na porção leste do Brasil, é um fato constatado, uma regularidade (ou padrão), que só uma regularidade pois sou capaz de notar semelhanças, assim com mais atenção, Aziz Ab Saber no papel de geógrafo, também encontrou outras regularidades que se coadunavam com outras regularidades do tipo extensivo e espacial que é do clima e da flora mais especificamente, com apoio de muitas observações, dados e deduções, foi possível a teoria dos domínio morfoclimáticos, isto é, relevo, clima e vegetação como sistemas distintos mas dinâmicos e interativos (interações físico-químicas), cujas interligações e reciprocidades naturais tem como produto a propria fisiografia e diversidade biogeografica, ai esta sua singularidade de paisagem, unica e irrepetível. (alias só poderíamos falar de uma paisagem geográfica não só devido a ação de perceber seu aspecto singular, mas que tal sistema natural complexo tem que ter alguma permanência material, sem o qual não poderíamos nem perceber).

Essas interações e tais reciprocidades constituem o conhecimento que pode orientar explicações de fenômenos como o “porquê” da forma de relevo em forma de “meia laranja”, ou porque há esse tipo de vegetação luxuriante nessa região e introduzir outros elementos para refinar a explicação como o papel das erosões e a relação de causa e efeito que há entre os elementos de precipitação, inclinação das vertentes e cobertura vegetal na explicação do grande potencial de deslizamentos de terra em muitas áreas desse domínio.

Mas o geógrafo não fica apenas na regularidade, há também a dessemelhança, pois notou-se que essa espacialidade em forma de padrão vegetativo perdia sua características em contraste com o sua área nuclear (core), um tipo de transição era encontrada até que as tais características de definição se perdiam gradualmente para outro domínio. Assim, a percepção de semelhança e dessemelhança tornam-se essenciais no aspecto cognitivo, pois as diferenças de paisagens que existem independente de nossas crenças ou expectativas, só podem ser conhecidas graças em grande parte a capacidade (ou treino para essa capacidade) , para “ver” diferenças no mundo real, porque elas num sentido físico existem e precisam ser descobertas.

Até aqui o que se quer destacar é que a percepção geográfica, ou como qualquer outra percepção é uma estrutura, o reconhecimento de um padrão ou regularidade se apóia em algum tipo de “desenvolvimento para x ou y percepção especifica”, e no caso do padrão espacial, o que define seus contornos é as noções que podemos ter de semelhança e dessemelhança, e que ajudam a garantir a definição de uma região ou classificação espacial.

O que é mais ou menos importante às vezes para o geógrafo é algum tipo de intrigamento perante as relações quer perfazem um recorte espacial, o mesmo Aziz Ab Saber diz ter ficado intrigado ou incomodo com uma forma de relevo (stone lines) que parecia destoar do quadro físico e das explicações desses mesmos quadros, essa aspecto foi pinçado da realidade, e desse realce e intrigamento é que posteriormente foi desenvolvida a teoria do refúgios. Assim quando se fala que o geógrafo trabalha com a “percepção” isso é muito genérico, pois o que se usa e se refina com o fazer geográfico é toda uma estrutura perceptiva muito ampla.