domingo, 13 de julho de 2008

Encontro das diferenças

Deve a geografia se preocupar como defendia de um certo modo o geógrafo estadunidense Hartshore pela especificidade de uma região ou paisagem ou como defendia o também geógrafo estadunidense Schaefer procurar leis com propriedades espaciais que não se alteram apesar das diversidades regionais. As vezes escutamos ou nos deparamos com afirmações ou metáforas geográficas muito genéricas (A Amazônia é uma grande floresta tropical) ou até distorcidas (Floresta amazônica é o pulmão do mundo).

Sabemos como em geografia lidar com palavras e representações é difícil em face das armadilhas que se encontram em generalizações, reducionismos (do tipo eliminatório) ou mesmo imprecisões. E, alem dessas armadilhas da linguagem temos que lidar com os emaranhados aspectos que constituem a realidade geográfica.

O método idiográfico (que privilegia os aspectos em sua singularidade individual) adaptado a busca das diferenciações geográficas não é o limite que a geografia pode chegar quanto a elaboração de algum conhecimento “genuinamente” geográfico, mas é em minha opinião parte do cimento básico do campo geográfico, pois “a floresta amazônica é o pulmão do mundo” é uma metáfora muito pobre e falsa para aceitarmos em detrimento do quanto as interações químicas e climáticas ocorrem nesse rico e gigante recorte geográfico. Só podemos começar a entender o que é a Amazônia quando podemos olhar para suas singularidades e pode-la diferenciar de outros ecossistemas.

Obviamente que só listar não deve ser tudo que a geografia pode fazer, mas com certeza ao fazer pesquisas desse “naipe” poderia estar contribuindo para desfazer generalizações grosseiras e imprecisas e criando linguagens mais especificas sobre a realidade espacial.

A meu ver imaginemos como é difícil e impreciso dizer que o Brasil apesar de ser um país latino-americano tal como a Argentina são culturais e geograficamente diferentes, pois imediatamente surge a pergunta “afinal em que são diferentes?”, um geógrafo Hartshorniano poderia apresentar informações que poderiam contrastar a geografia dos dois países e até dizer sobre coisas que tem em comum, mas que são vividas e vistas de maneiras diferentes pelos dois países, em termos de método é difícil saber por onde começar a lista e difícil saber como terminá-la, porem ainda que exaustivo e quase inconclusivo, acredito que Hartshore estava ciente que a contribuição mais esperada da geografia para a comunidade e para as ciências humanas é que está ciência fosse capaz de em meio a inúmeros aspectos que se apresentam no espaço e em face dessa complexidade de interações físicas e humanos a geografia poderia com algum critério racional mostrar que o mundo é uma colcha de retalhos e alem disso de que tecidos e cores tem cada pedaço desse espaço, alias até mesmo classificar e encotrar (regiões e/ou zonas) especificidades que são a marca de identidade desses pedaços espaciais.

Penso que o caminho visto por Hartshore e de alguma forma trilhado por muitos ainda hoje representa uma nobre empreitada, as descrições, diferenciações e comparações são instrumentos que fazem parte da racionalidade geográfica, não creio por outro lado, que a geografia deva esquecer-se da outra empreitada tão nobre quanto aquela que é estudar, analisar e arriscar leis ou modelos espaciais, não penso que sejam métodos excludentes.

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