sábado, 12 de julho de 2008

há uma estrutura da percepção geográfica

Para o geógrafo estadunidense Hartshore classificar uma região é realçar aspectos mais importantes em detrimento de aspectos "menos importantes", essa questão de escolha me parece verdadeira, mas não totalmente satisfatória, vejamos que a classificação do geógrafo Aziz Ab Saber de “domínio dos mares de morro” parte da constatação de algumas regularidades naturais, tais regularidades são espaciais (e isso é perceptivo também), a um encontro entre o que estamos potencialmente capacitados a “ver” e que existem como na realidade física, independente de nossas crenças, contudo, a ação de constatar esta intimamente atrelada ao que se poderia chamar de treino perceptivo ou desenvolvimento da percepção para alguma finalidade, se é treinado a enxergar isso ou aquilo, ou ainda, às vezes constatamos algo graças aos conceitos ou idéias que aprendemos, em poucas palavras, “constatar” é precedido de algum conteúdo pré-elaborado.

Para mim esse é um ponto importante, porque, se junta à questão da semelhança e dessemelhança, o fato de até cansar a minha visão quanto a monotonia de relevos do tipo “meias laranjas” na porção leste do Brasil, é um fato constatado, uma regularidade (ou padrão), que só uma regularidade pois sou capaz de notar semelhanças, assim com mais atenção, Aziz Ab Saber no papel de geógrafo, também encontrou outras regularidades que se coadunavam com outras regularidades do tipo extensivo e espacial que é do clima e da flora mais especificamente, com apoio de muitas observações, dados e deduções, foi possível a teoria dos domínio morfoclimáticos, isto é, relevo, clima e vegetação como sistemas distintos mas dinâmicos e interativos (interações físico-químicas), cujas interligações e reciprocidades naturais tem como produto a propria fisiografia e diversidade biogeografica, ai esta sua singularidade de paisagem, unica e irrepetível. (alias só poderíamos falar de uma paisagem geográfica não só devido a ação de perceber seu aspecto singular, mas que tal sistema natural complexo tem que ter alguma permanência material, sem o qual não poderíamos nem perceber).

Essas interações e tais reciprocidades constituem o conhecimento que pode orientar explicações de fenômenos como o “porquê” da forma de relevo em forma de “meia laranja”, ou porque há esse tipo de vegetação luxuriante nessa região e introduzir outros elementos para refinar a explicação como o papel das erosões e a relação de causa e efeito que há entre os elementos de precipitação, inclinação das vertentes e cobertura vegetal na explicação do grande potencial de deslizamentos de terra em muitas áreas desse domínio.

Mas o geógrafo não fica apenas na regularidade, há também a dessemelhança, pois notou-se que essa espacialidade em forma de padrão vegetativo perdia sua características em contraste com o sua área nuclear (core), um tipo de transição era encontrada até que as tais características de definição se perdiam gradualmente para outro domínio. Assim, a percepção de semelhança e dessemelhança tornam-se essenciais no aspecto cognitivo, pois as diferenças de paisagens que existem independente de nossas crenças ou expectativas, só podem ser conhecidas graças em grande parte a capacidade (ou treino para essa capacidade) , para “ver” diferenças no mundo real, porque elas num sentido físico existem e precisam ser descobertas.

Até aqui o que se quer destacar é que a percepção geográfica, ou como qualquer outra percepção é uma estrutura, o reconhecimento de um padrão ou regularidade se apóia em algum tipo de “desenvolvimento para x ou y percepção especifica”, e no caso do padrão espacial, o que define seus contornos é as noções que podemos ter de semelhança e dessemelhança, e que ajudam a garantir a definição de uma região ou classificação espacial.

O que é mais ou menos importante às vezes para o geógrafo é algum tipo de intrigamento perante as relações quer perfazem um recorte espacial, o mesmo Aziz Ab Saber diz ter ficado intrigado ou incomodo com uma forma de relevo (stone lines) que parecia destoar do quadro físico e das explicações desses mesmos quadros, essa aspecto foi pinçado da realidade, e desse realce e intrigamento é que posteriormente foi desenvolvida a teoria do refúgios. Assim quando se fala que o geógrafo trabalha com a “percepção” isso é muito genérico, pois o que se usa e se refina com o fazer geográfico é toda uma estrutura perceptiva muito ampla.

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